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- Sobre comparação e a ação da conformidade.
Uma reflexão sobre como se comparar e ser influenciado, pode ser bom. Sobre comparação e a ação da conformidade. Uma reflexão sobre como se comparar e ser influenciado, pode ser bom. Precisamos de pertencimento e fazemos tudo para consegui-lo Somos o que somos, a partir do meio em que vivemos. Nossa experiência de vida, condição social, pessoas e informações a que temos acesso, nos moldam. E independentemente de um querer individual, o nosso entorno influencia em nossas decisões e nas oportunidades que alcançamos. Da mesma forma, nossas ações e comportamento também influenciam os ambientes que frequentamos e as pessoas que convivemos. Numa via de mão dupla, grupos sociais — como família, amigos, colegas de trabalho — influenciam-se mutuamente conforme sua convivência. Portanto, diferente do que gostamos de dizer para os nossos pais na adolescência, somos influenciáveis sim — ou pelo menos estamos suscetíveis a. Mas, por quê? Porque temos necessidade de pertencimento. E por isso, acabamos, de alguma forma e em algum nível, nos adequando ao ambiente do nosso interesse e absorvendo em nosso modo de pensar ou agir suas interferências — mesmo que inconscientemente — para seguirmos fazendo parte. Indico um livro muito interessante que trata especificamente desse tema, chamado: O Poder das Circunstâncias (2012), de Sam Sommers, psicólogo e pesquisador sobre equidade racial e diversidade de grupos, explorando desigualdades raciais e os esforços para amenizá-las. Na obra, dentre tantos aspectos que explicam como o “o mundo à nossa volta influencia nossos pensamentos e comportamentos” destaco o estudo sobre ação da conformidade, descoberta pelo pesquisador e psicólogo Solomon Asche e destrinchada por Sommers no livro. Tal ação age sobre nossas atitudes nos fazendo concordar com opiniões de grupos, para ser aceito ou não causar conflitos. Quem nunca concordou em ir naquele restaurante que não gosta só porque a maioria escolheu? Ou preferiu não compartilhar alguma opinião impopular só pra não destoar da maioria? Pois é… Porém, a pesquisa de Asche afirma que a ação da conformidade nos afeta de forma mais profunda do que isso. “Acontece que nossa tendência de seguir com a maioria não se limita a situações em que queremos evitar confusão. Às vezes, as pessoas ao nosso redor influenciam não somente nosso comportamento público, mas também nossos pensamentos íntimos”, afetando também, portanto, nossas ideias e opiniões. Socialmente, isso acontece quando inconscientemente moldamos comportamentos, critérios e valores visando agradar ou ser aceito. “Logo, a conformidade é um processo interno por meio do qual percebemos a norma de um grupo e nos ajustamos de acordo”. Ocorre que, conforme Sommers explica, “a mão invisível da conformidade” age despertando sentimentos que nos instigam a agir em concordância com o grupo ou com alguém, como o sentimento de retribuição e compromisso. Talvez por isso, a interferência de pessoas mais próximas com as quais cultivamos vínculos emocionais tenham maior influência, justamente pelo poder de despertar sentimentos de obrigação, retribuição ou comprometimento. Vale ressaltar que nem sempre tal comportamento é prejudicial, pois, como citado lá no início: somos seres sociais e precisamos pertencer a grupos, comunidades. Além disso, a mudança de hábitos e comportamentos, influenciada pelo nosso entorno, pode ser positiva, nos tornando melhores em algum aspecto, nos ensinando coisas novas, enfim. Por isso, demonizar a influência não é o caminho. Contudo, é importante estar atento quanto a frequência e intensidade da chamada ação da conformidade em nossas decisões para avaliar se não pode estar se tornando um problema. Pertencimento e Comparação Conscientes de que o contexto influencia muito na nossa existência, olhemos com outros olhos para o ~vilão~ da comparação. Segundo Sommers, a comparação é o que nos ajuda a olhar para si e entender quem somos, onde estamos. Sem esse comparativo, ficaríamos perdidos sobre se estamos bem ou mal, com sucesso ou não, progredindo ou estagnados. Ao naturalizar a comparação, Sommers abre caminho para reflexões mais relevantes, como: com quem estamos nos comparando? Sendo esse o ponto mais importante do que a comparação em si, que é natural e inerente ao ser humano. Abandonando o discurso motivacional: “Não se compare!” bastante vago e irreal, precisamos pensar sobre quem está à nossa volta, em quem nos inspira e com quem nos comparamos. De acordo com Sommers, nosso balizador está sempre próximo — seja fisicamente ou virtualmente — “Isso significa que nossa escolha de pessoas à nossa volta influencia como vemos o eu. As pessoas com quem estamos têm um impacto profundo sobre quem acreditamos ser”. Logo, fica evidente como a comparação se torna injusta e irreal se feita com pessoas com realidades totalmente diferentes da nossa. Cada um tem sua trajetória, num ritmo e com oportunidades, diretamente relacionadas ao seu contexto de classe social, cor, gênero e poder econômico. Como lidar com comparações paralisantes Quando o nível de comparação e de exigência — externas e internas — são altos ou nos afetam em momentos de maior fragilidade, podem nos paralisar, afetando autoestima, motivação e a própria sensação de pertencimento. Aí, a solução também está ao nosso redor. Sommers, afirma que conseguimos enfrentar — ou pelo menos temos menos dificuldade de encarar — a ação da conformidade em nossas ações, quando temos um aliado. Basta uma pessoa também quebrar o ciclo, ir contra a regra, que nos sentimos encorajados a fazê-lo. “Um dissidente altera a cultura de um grupo ao reformular suas normas. Em vez de ser impensável e inaceitável, a discordância torna-se meramente estranha”. E assim, como seres sociais que somos, é na coletividade que conseguimos alterar a rota. O que reforça a importância de nos cercamos daqueles que além de nos acrescentarem, com influências positivas, também desejam combater padrões irreais e ultrapassados, cessar comparações exageradas e injustas, ir contra exigências além do nosso limite e interesse, e por aí vai. Com a consciência de tudo que interfere nossas escolhas e comportamento, e balizando as responsabilidades individuais e de contexto. Afinal, a escolha de caminhos é individual, mas nunca (e que bom) não o percorremos sozinhos. Sobre comparação e a ação da conformidade. Faz sentido pra ti? Vamos trocar opiniões aqui nos comentários! Obrigada por ler, se você gostou compartilhe a news com seus amigos. Sigo tentando liberar um texto novo todo mês. Se quiser, envie sugestões de pautas para os próximos meses! Referências dessa news: Livro: O Poder das Circunstâncias, de Sam Sommers, publicado pela editora Campus em 2012.
- Você é um bom chefe de si?
A autonomia de decidir seus horários, prazos e limites te conforta ou te assusta? Você é um bom chefe de si? O sonho de liberdade Trabalhar de forma autônoma tem se tornado uma alternativa para muitos profissionais que, ao não se identificarem mais com uma posição no mundo corporativo, migram do CLT para o PJ na busca de mais flexibilidade e qualidade de vida. Como uma profissional que passou por essa migração, sinto os benefícios de ter mais controle sobre minha agenda e poder atuar em projetos alinhados ao meu propósito, que contribuem para meu desenvolvimento pessoal e profissional. A diversidade de atividades em que me envolvo nesse modelo de trabalho me dá diferentes oportunidades de aumentar meu repertório e desenvolver diversas habilidades. Isso expande meus conhecimentos e minha rede de contatos, proporcionando trocas interessantes e abrindo novas possibilidades de atuação. Contudo, como em qualquer trabalho, há desafios. Nesse caso, a imprevisibilidade de parcerias e, consequentemente, de renda, é o principal deles. Nesse ponto, é fundamental ter uma reserva financeira de emergência e muita organização. O assombro da imprevisibilidade Mesmo sendo super organizada, essa incerteza quanto ao futuro alimenta a necessidade — real ou às vezes criada pela ansiedade — de manter-se sempre na ativa, estudando, prospectando, expandindo a rede de contatos e assim por diante. O motivo é claro: somos uma empresa de um funcionário só, sem garantias. Num trabalho autônomo — uma realidade de qualquer empreendedor — atuamos em diversas áreas, não bastando trabalhar para entregar da melhor forma aquele projeto, mas também divulgando o que está sendo realizado, cuidando da parte burocrática e mantendo bons contatos. Essa situação, apesar de comum e necessária numa atuação PJ, gera muita autocobrança. A ilusão de poder dar conta de tudo leva a alguns excessos de horas de trabalho e desgaste emocional por estar sempre alerta. Assim, o que deveria ser um modelo de trabalho mais saudável se torna a precarização do trabalho. Byung-Chul Han, no livro “A Sociedade do Cansaço”, explica esse comportamento como resultado da “evolução da sociedade disciplinar para a sociedade do desempenho, na qual pensadores como Foucault afirmam que a sociedade disciplinar estava cercada de prisões, fábricas, asilos e hospitais, com poderes e direitos limitados por leis ou mandamentos. Hoje, segundo Byung-Chul Han, a sociedade está imersa em escritórios, academias, shoppings, num ambiente mais permissivo, com muita iniciativa e motivação para sempre desempenhar algum papel. Seríamos nós, então, os sujeitos de desempenho e produção dos famosos empresários de si”. Trecho da resenha sobre o livro, publicado no Raízes. Em outro extremo, mostra-se que nem todos empreendem pelo desejo de autonomia e flexibilidade, mas porque precisam. Ser autônomo pode também significar a chamada plataformização do trabalho, como única alternativa, num contexto sem garantias, qualidade de vida e flexibilidade. Independentemente da motivação — escolha ou necessidade — empreender sustenta a ideia de “empresário de si mesmo”, que pode ser muito perigosa. “Assumir total responsabilidade por nossas vidas, acreditando que só depende do nosso esforço e iniciativa, gera pressão e frustração. Uma vez que isso ignora as diferentes realidades em que vivemos, dando crédito à falácia da meritocracia. Acreditar que somos nossos próprios chefes e que quanto mais fizermos, mais conquistaremos, nos torna o que o autor chama de animal laborans: um homem depressivo que explora a si com uma falsa ideia de liberdade”. Trecho da resenha sobre o livro, publicado no Raízes. É preciso estar atento e focado no equilíbrio Iludir-se com a liberdade do trabalho autônomo enquanto se sobrecarrega de mil tarefas é muito mais fácil do que parece. Entretanto, considerando os benefícios desse modelo de trabalho e as motivações que fazem tantos profissionais optarem por ele, é preciso buscar intencionalmente um equilíbrio. Primeiro, não tem jeito: precisa de organização e planejamento, e eles devem ser realistas, não otimistas. Planejar um prazo de projeto, confiando que todas as informações vão chegar redondinhas na data combinada e tudo fluirá como planejado, é irreal. É fundamental considerar uma margem para imprevistos, tanto com você quanto com o cliente, que garantam o fluxo saudável do trabalho e, por consequência, a qualidade da entrega. Correr às vezes é necessário, mas correr sempre é, com certeza, falta de organização e planejamento, seja sua ou do cliente. Outro ponto é considerar pequenas pausas ao longo da sua rotina de trabalho, falei um pouco sobre isso na newsletter de maio. Pode não parecer fundamental, mas são elas que mantêm mente e corpo sãos, permitindo que sigamos produzindo com qualidade. Outro fator determinante é a delimitação de horários e espaços. A liberdade dessa forma de trabalho nos garante a escolha de trabalhar mais horas em um dia, para folgar no outro; ou trabalhar somente as tardes e início das noites, para folgar pelas manhãs, etc. As possibilidades são muitas, mas é fundamental ter clareza sobre quais são os seus períodos de trabalho, principalmente quando eles começam e quando eles acabam. Devido a não existência de um padrão e volume de trabalho, não é comum ter uma visão de longo prazo. Portanto, acredito que essa organização funcione melhor semanalmente, considerando as entregas do momento. O ponto principal de atenção é o horário de encerramento, lembrando-se de que: “Hoje deu, amanhã tem mais”. Para quem trabalha em casa, como eu, nesse ponto, a delimitação de espaço ajuda muito, trazendo um efeito psicológico importante: agora estou no trabalho, agora estou no período de folga. Ter seu local de trabalho definido, de preferência onde você possa sair e fechar a porta ao encerrar o expediente, ajuda muito. São pequenas simbologias que nos ajudam a entender que paramos de trabalhar e agora só voltaremos amanhã. Claro, o celular — e seus aplicativos de WhatsApp e E-mail, etc. — seguem conosco, mas aí vale silenciar notificações e configurar a função “não perturbe”. Lembre-se de que essas decisões estão completamente nas suas mãos, não há um chefe, regras criadas por terceiros ou qualquer outro tipo de cobrança externa. Afinal, você é quem faz seu horário e suas regras e desde que seu modelo de trabalho permita realizar entregas de qualidade nos prazos combinados, a autonomia de determinar limites e regras de atuação é sua. Pensar em tudo isso e buscar soluções não é fácil, mas é transformador. A motivação principal deve ser a qualidade de vida, com equilíbrio entre pessoal e profissional, que motivaram a escolha por esse modelo de trabalho lá no início. Cuidado com a falácia da meritocracia Por fim, não custa reforçar: “São tantos os anseios, os estímulos, as comparações, e para a vida dar certo no meio desse caos, não basta pensar positivo. Pelo contrário, reconhecer as falhas do sistema, conhecer nossas fraquezas e erros é o que nos faz humanos, e pensar sobre isso pode nos tirar do fluxo. […] E termos a oportunidade de questionar tudo isso, mais uma vez nos coloca em uma situação de privilégio. Poder pensar em uma sociedade extremamente exploratória e desigual deve ser também a prerrogativa de repensarmos nossas atitudes, escolhas e relações. Seguir produzindo e consumindo até a exaustão, sem oportunizar o tédio e a contemplação, não só dedica um direito de curta duração, como também mantém a máquina de exploração funcionando em plenas condições. Trabalhar enquanto eles dormem só vai nos deixar mais cansados e pertencentes a esse sistema”. Trecho da revisão sobre o livro, publicado no Raízes. Portanto, além de se esforçar para conseguir o que quer, pergunte-se de vez em quando: sou um bom chefe para mim? A vida já nos coloca numa correria constante, com muitas demandas e pressões, não precisamos contribuir ainda mais com isso. Além dessa reflexão, deixo a indicação do livro “A Sociedade do Cansaço”, de Byung-Chul Han. Você é um bom chefe de si? Faz sentido pra ti? Vamos trocar opiniões aqui nos comentários! Obrigada por ler, se você gostou compartilhe com seus amigos. Sigo tentando liberar um texto novo todo mês. Se quiser, envie sugestões de pautas para os próximos meses. 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