Uma reflexão sobre eventos e revistas literárias
Como você se relaciona com a literatura? Uma reflexão sobre eventos e revistas literárias
Tive o prazer de prestigiar a primeira edição do FiliGram - Festival Internacional de Literatura de Gramado. Iniciativa que reuniu escritores, profissionais do mercado editorial, livreiros, curadores, leitores e incentivadores da literatura, promovendo a aproximação do público com o universo literário.
Escolhi a dedo o dia para participar e curti muito a programação do eixo temático Mercatto, organizado pelos curadores Vitor Diehl e Giovani Urio do portal Literatura RS, com uma programação focada no mercado editorial. Achei os temas super pertinentes e com falas de profissionais de grande representatividade no cenário gaúcho e internacional.
O que eu vi por lá
Assisti à fala do escritor e pesquisador Michael Bhaskar, sobre curadoria, tema do seu livro: Curadoria: o poder da seleção no mundo do excesso. Uma participação internacional, transmitida em tempo real também pelas redes sociais do evento, sobre esse que é um tema mais que relevante no contexto de muita produção de conteúdo, principalmente no digital, que vivemos. Ele abordou também a diferença entre curador e influenciador, fazendo pensar sobre o que está por trás das recomendações feitas na internet.
Também acompanhei o painel com curadores de eventos literários gaúchos, com Fernando Ramos da Festipoa Literária, Ana Paula Cecato da Feira do Livro de Porto Alegre e Miguel Rettenmaier da Jornada Literária de Passo Fundo, que debateram a importância desses eventos para o incentivo a leitura e formação de novos leitores. Eles destacaram a necessidade de investimento pelas leis de incentivo e as dificuldades enfrentadas no atual cenário em que a cultura em nosso país está sendo desprezada e sofrendo diversos cortes.
E o painel que cito com destaque, foi com editores de revistas literárias independentes aqui do Rio Grande do Sul. Profissionais que de forma autônoma e voluntária mantêm vivos veículos dedicados à literatura, incentivando e dando espaço para escritores iniciantes. O papo foi com Carolina Panta da La Loba Magazine, Doralino Souza da Rosa da Revista Paranhana Literário, André Santos da Revista Literomancia. Todos eles dedicam suas horas livres para editar e produzir revistas literárias que depois são distribuídas gratuitamente em formato digital.
Apesar do excelente trabalho executado por eles, todos citam não haver rentabilidade com as publicações, o que os obriga a trabalhar nesses projetos apenas nas horas livres. Com um trabalho árduo para ler e selecionar as centenas de textos que recebem para publicação, além das inúmeras sugestões de pautas trazidas pelos leitores que precisam ser avaliadas e encaixadas de alguma maneira.
Cenário que comprova a existência de escritores querendo publicar e leitores querendo consumir esse tipo de publicação. Mas, com pouco ou nenhum incentivo para manter esses veículos funcionando a todo vapor. Os editores realizam um trabalho admirável, movido por paixão e crença no poder da literatura, mas que infelizmente está restrito à capacidade de suas iniciativas individuais. O que obviamente limita as possibilidades de crescimento do alcance dessas revistas, que reúnem e divulgam com esmero a cena literária aqui no Rio Grande do Sul. Um cenário em potencial que vale acompanhar!
Sobre eventos e revistas literárias
Neste domingo à tarde e ensolarado em que passeei entre essas atividades, fiquei refletindo sobre o quão importante é termos um evento como esse na nossa região, aberto ao público de forma gratuita e com conteúdos interessantes e de qualidade. Entretanto, senti que a audiência estava pequena. Não sei se porque escolhi painéis muito nichados, ou porque estava frio, quem sabe por ser um domingo?
Acompanhei as redes sociais do evento pelos demais dias e o cenário não me pareceu muito diferente, salvo em dias em que havia na programação personalidades mais conhecidas, o que naturalmente atraiu um público maior.
Coincidência ou não, dias depois do evento, assisti ao programa de literatura, Entrelinhas da TV Cultura, conduzido pelo Manuel da Costa Pinto, que levou ao ar um episódio entrevistando editores de revistas literárias . O papo foi com Fernanda Paola da Revista Cult, Paulo Werneck da Quatro Cinco Um, Rogério Pereira do Jornal Rascunho e Schneider Carpeggiani do Suplemento Pernambuco (o qual eu tive o prazer de conhecer através da oficina de resenhas que ele conduziu pela Escrevedeira). Periódicos que nasceram para atuar no nicho literário e cultural, divulgando conteúdos que cada vez mais perdem espaço em grandes jornais e canais de televisão.
Foi impossível não lembrar dos três editores que assisti na FiliGram, que a muito custo e nenhum retorno financeiro, mantêm no ar publicações literárias. Enquanto as revistas literárias da reportagem, que possuem recursos financeiros e equipes maiores trabalhando em sua produção e distribuição, tiveram condições para encontrar um público fiel e um espaço interessante no mercado nacional. As publicações independentes ficam marginalizadas, tentando ganhar espaço de forma orgânica, competindo a atenção do público com grandes veículos.
Não sou de forma nenhuma crítica aos grandes veículos de literatura, acredito que há espaço para todos e cada um cumpre seu papel de disseminar a importância da literatura. Entretanto, ao refletir que, segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, a quantidade de leitores no Brasil não aumenta há pelo menos 20 anos (desde que a pesquisa é aplicada o percentual de leitores não sai da média dos 50%), concluo que grandes e pequenos veículos estão disputando a atenção do mesmo público.
E, por óbvio, veículos maiores terão maior alcance. Portanto, caberia a nós leitores, realizar ativamente o esforço de buscar veículos alternativos de literatura. Nos aproximando do nosso entorno e apoiando, também quem está aí no corre.
Nesse fluxo recordei outro papo sobre a cobertura jornalística literária que assisti, na Bienal do Livro de São Paulo esse ano, com os colunistas de literatura Ruan S. Gabriel do jornal O Globo e Maria Fernanda Rodrigues do jornal Estadão. Ambos comentam sobre a importância do tema livro estar em grandes veículos, porém, suas colunas sobre literatura não são as mais lidas. Logo, a literatura disputa constantemente a atenção e espaço na pauta da redação com outros temas que geram mais cliques e engajamento do público. Reforçando assim, ser necessária a participação leitor para manter a literatura em grandes publicações como as que eles trabalham.
Por isso pergunto, você leitor, amante dos livros, gosta de acompanhar periódicos sobre literatura? Conhece as publicações da sua região? Vocês frequentam eventos literários?
Para manter esses veículos e eventos são necessários recursos financeiros (sejam públicos ou privados) mas também investimento do tempo do leitor para acompanhar, engajar e prestigiar tais iniciativas. Só assim elas se manterão vivas e interessantes, tanto para o público quanto para o mercado.
Em todo caso, é fundamental reconhecer que, independente do tamanho, revistas e eventos literários existem como forma de resistência. Afinal, manter publicações ou lançar eventos como a FiliGram, específicos sobre literatura, em um país que alguns insistem em afirmar não ser de leitores, é de fato resistir.
O livro e a literatura precisam ganhar espaço, estar mais acessível e próxima do público geral. E isso é possível, dentre outras iniciativas, através de eventos e publicações dedicadas à literatura.
Se você leu até aqui, quem sabe não se inspira e dedica um tempo para conhecer as publicações que citei aqui? Vamos juntos fortalecer e manter vivos canais de literatura!
Aproveito e cito aqui o meu projeto: Raízes | Site de Conteúdo Literário, será um prazer te ver por lá também!
Como você se relaciona com a literatura?
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Obrigada por ler, se você gostou compartilhe com seus amigos.
Sigo tentando liberar um texto novo todo mês. Se quiser, envie sugestões de pautas para os próximos meses.
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