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Foto do escritorAdriana Ferreira

O dilema da autopromoção

Atualizado: 18 de mar.

O quanto divulgar os resultados do seu trabalho te incomoda?

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O dilema da autopromoção: O quanto divulgar os resultados do seu trabalho te incomoda?


Quantas vezes você sentiu-se constrangida ao contar que aquele projeto foi um sucesso? Ou então, sentiu-se envergonhada ao receber um elogio na frente de outros colegas? Se você perdeu a conta de quantas vezes situações como essas aconteceram, esse texto vai te interessar.


Não por acaso usei aqui as palavras "constrangida" e "envergonhada". Sei que situações como essa podem ocorrer a qualquer pessoa, mas, infelizmente, a realidade é que tais sentimentos têm afetado muito mais as mulheres e ao longo do texto vamos entender por quê.

Já há algum tempo o meio corporativo convencionou que não basta fazer, é preciso mostrar que fez. Eu, inúmeras vezes, ouvi a frase infame: "não basta pôr o ovo, tem que cacarejar"...


Pois é. Eis o dilema da autopromoção.


Fato é que tal situação gera um grande dilema: o quanto posso parecer exibicionista ao compartilhar resultados positivos de um trabalho? Tal receio – alimentado pela posição social que nós mulheres ocupamos – faz com que muitas de nós prefiramos manter o estilo humilde e discreto em meio a tantos feitos profissionais.


Questões sócio-históricas

Historicamente, mulheres ocupam um lugar de generosidade, entrega e modéstia, ocupando um lugar ao lado – ou durante muito tempo, atrás – de homens protagonistas, provedores e líderes de família. Como boas mães, filhas, irmãs ou esposas são as cuidadoras, multitarefas, antecipam necessidades e pacificam conflitos.


Ao longo dos anos muita coisa evoluiu (infelizmente não pra todas, nem em todo lugar). Mas é fato que mulheres adentraram o mercado de trabalho, conquistaram espaço, visibilidade e contribuíram para importantes conquistas. Porém, nada disso fez com que essas características “femininas” não continuassem sendo esperadas no mercado de trabalho.


Podemos ser altamente produtivas, responsáveis, ter excelente gestão do tempo e de grandes projetos e equipe – afinal, desde pequenas estamos sendo treinadas para cuidar de uma casa e da família, né? Porém, não pega bem sermos competitivas, termos ambição e menos ainda, exibirmos nossos feitos.


Em situações em que mulheres se impõem, são firmes em suas opiniões e não admitem ter sua voz silenciada, são imediatamente tachadas de difíceis. Pra não dizer outros "elogios" que recebem pelas costas.


E todo esse contexto vai enraizando a crença de que o nosso trabalho deve falar por nós. Basta seguir se dedicando com excelência que em algum momento alguém vai ver e nos dar o valor que tanto almejamos e merecemos.


Será?


Não acho impossível, mas bem pouco provável. Principalmente em um meio competitivo e egóico como o corporativo.

Sobre quem sabe se vender

O cenário piora – e muito, quando aparece alguém que, pode nem ser tão bom profissional assim, mas sabe se vender. E assim, ganha o espaço e a oportunidade que estávamos há meses aguardando enquanto nos matamos de trabalhar, de forma paciente e compreensiva.


Vale pontuar que o termo "se vender", vem sendo aplicado a homens (em grande maioria brancos e héteros) com disposição de falar de si mesmo, sua carreira e conquistas. Porque homem no meio corporativo não se exibe, ele se vende. E com maestria, aproveita toda e qualquer oportunidade para se transformar na pauta da conversa.


O mais comum é apontarmos para essa pessoa que "sabe se vender" e sentimos um desconforto. Afinal, de forma mais rápida ela “passou na frente” e chegou lá. Puxa saco, seria seu apelido carinhoso.


Situação muito bem descrita no livro "A outra garota negra" de Zakiya Dalila Harris, uma obra incrível que trata sobre racismo, identidade, pertencimento e relações de trabalho. A protagonista, Nella, é uma mulher negra que finalmente consegue um emprego em uma importante editora. Ela era a única negra no time, até que Hazel é contratada.


Inicialmente, Nella acredita que terá em Hazel um apoio e que juntas farão pequenas revoluções e se apoiarão diante das dificuldades cotidianas enfrentadas por trabalharem em um ambiente majoritariamente branco. Porém, Hazel tinha outro perfil.


Ela entrou na editora pronta pra "jogar o jogo". Rapidamente procurou entender como tudo funcionava, se aproximou verdadeiramente de pessoas influentes e conquistou para si uma atenção especial. Aprendeu rápido, trabalhou bastante, mas principalmente sabia "se vender" e logo teve muito destaque.


"O status de celebridade que Hazel havia alcançado em tão pouco tempo a atingiu de um modo que a incomodava, e a incomodava estar incomodada, acima de tudo porque ela e Hazel deviam estar no mesmo time.[...] Nella nunca tinha recebido um pingo da atenção que todos davam a Hazel. Se fosse pra ser sincera, ela diria que nunca havia pensado que algum dia receberia essa atenção".


E esse é o ponto, pela falta de crença de que merece essa atenção ou de que recebê-la era algo possível, a fez nem tentar. Assim, a personagem segue: "Devagar e sempre, na esperança de tornar sua trajetória um pouco mais tranquila, na esperança de conseguir uma promoção, aceitará todas as desculpas".


E aí? Tem algo de errado no comportamento de Hazel?


Ressalvas importantes

Não estou falando sobre inventar conquistas apenas para ganhar visibilidade. Menos ainda em passar em cima de alguém de forma antiética, sob a justificativa de ser ambiciosa e "saber se vender".


Também não estou falando de puxar saco, ou ter uma doação extrema a chefes e empresas, para talvez ganhar oportunidade. Menos ainda se tornar uma narcisista que tenta virar a pauta de qualquer conversa.


Falo sobre saber divulgar seus verdadeiros feitos e se permitir sentir orgulho de suas conquistas a ponto de compartilhá-las.


Afinal, isso vem sendo feito há muito tempo no mercado de trabalho, pelos homens. Mas, quando encontramos uma mulher com esse perfil, vem junto um ar de surpresa e desconfiança.


Para escrever uma nova história

Como no mundo corporativo essa habilidade é, sim, valorizada e pode abrir portas, a provocação aqui é sobre como falar sobre conquistas de maneira mais orgânica e justa. Considerando que isso pode servir de exemplo e incentivo para que outras mulheres se sintam confortáveis em fazer isso também.


Mas, qual a nossa dificuldade em fazer isso?

Primeiro, acho que cabe entender que existe um jogo. Sim, um jogo do mundo corporativo, que segue um padrão de funcionamento, nem sempre justo e com regras implícitas, que todos jogam – mesmo sem saber.


Tendo consciência disso, para conseguir jogá-lo é preciso muita inteligência emocional, excelente relacionamento interpessoal e se livrar de qualquer receio de aparecer. E é justamente esse terceiro ponto que pega para a maioria das mulheres. Pois ele envolve conceitos enraizados na nossa criação e vão contra àquela postura generosa e humilde que a maioria espera de nós.


Vejamos algumas ações que considero importantes:


É preciso perder o medo e a vergonha de divulgar com verdade e respeito o que de fato você fez, destacando suas experiências, conquistas e habilidades.


Veja um caso real de como isso parece simples, mas não é:

Recentemente participei de um projeto de escrita com várias mulheres competentes, com carreiras extensas e cheias de conquistas.

Durante o processo iriamos escrever sobre nós e todas, absolutamente todas, tinham muito receio de parecerem exibidas ou vaidosas ao narrar suas conquistas profissionais. Elas tinham realizado muitas coisas importantes, mas na hora de contar isso pro mundo sentiam estar ocupando um espaço que não era delas.

Enquanto as ouvia falar, eu só pensava que contar nossa trajetória e os frutos do nosso esforço não é se exibir, mas sim se valorizar. E como sentir-se confortável para fazer isso é tão relevante quanto a capacidade de executar.


Desenvolver habilidades comportamentais para superar antigas crenças de que divulgar seu trabalho seria errado ou puro exibicionismo.

Um processo de autoconhecimento e autoestima:

É fundamental trabalhar a vulnerabilidade, síndrome da impostora e revisar valores e prioridades. Desenvolver uma comunicação assertiva e não violenta para conseguir se expor com mais tranquilidade.

Reconhecer e valorizar nossa trajetória, de forma que para além do esforço e dedicação diárias, também sobre um tempo para estrategicamente compartilhar os feitos. Estar atenta para aproveitar as oportunidades de falar sobre coisas que você já fez, já conquistou.


Compreender que esse se sentir desconfortável nesse processo é resultado de uma construção histórica e social que nos moldou. Superar isso não é simples.

Vá com calma e seja generosa com você:

Bem importante refletir sobre o porquê temos essa dificuldade e vislumbrar as oportunidades que poderíamos ter ao mudar esse comportamento.

Lembre-se de todas as vezes que você preferiu não se candidatar para aquela oportunidade que tanto queria por achar que se você merecesse seu superior iria te chamar; ou então não fez aquele post lindo sobre as metas conquistadas pra não parecer exibida, está alimentando a crença de que basta trabalhar duro e entregar com excelência.

"Quando você não está acostumada a se sentir segura, apresentar-se autoconfiante pode parecer arrogância. Quando não está acostumada a se posicionar, ser assertiva pode parecer agressividade" Aurora, o despertar da mulher exausta, da Marcela Ceribelli.

Provavelmente, nessa virada de ano você fez um balanço sobre 2022 e recordou importantes conquistas e aprendizados. Que tal compartilhá-las com o mundo?

Por que não?

 

Faz sentido pra ti? Vamos trocar opiniões aqui nos comentários!

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Sigo tentando liberar um texto novo todo mês. Se quiser, envie sugestões de pautas para os próximos meses.

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